DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

domingo, 5 de dezembro de 2010

SIDÓNIO PAIS


Na noite de 5 de Dezembro de 1917, aproveitando a deslocação de Afonso Costa ao estrangeiro, Sidónio Pais, apoiado pelo jovem tenente Teófilo Duarte, entrou na Escola de Guerra e no Quartel de Artilharia 1. Reuniu 1.500 homens e fê-los acampar na Rotunda, ao fundo do Parque Eduardo VII.
Diz-se que uma das companhias se juntou à revolta apenas para não embarcar para a Flandres. Ouviram-se gritos:
- Abaixo a guerra! Nem mais um homem para a guerra!
Tacticamente, repetia-se o 5 de Outubro, com poucos oficiais (quase todos cadetes e alferes), abundância relativa de peças de artilharia e ocupação de um ponto estratégico de Lisboa.
A marinha posicionou-se do lado do governo e alguns navios abriram fogo sobre a Rotunda. Sidónio Pais tinha em especial atenção o Gil Eannes. O segundo comandante era o seu irmão António Pais.
O Guadiana mostrava-se demasiado certeiro na pontaria. O capitão Cameira dirigiu-se aos seus artilheiros:
- Dou uma libra de ouro a quem meter uma granada no Guadiana!
O sargento Andrade afinou a sua peça e acertou em cheio por três vezes.
As coisas estavam a correr bem aos revoltosos.
As tropas governamentais atacaram os rebeldes apenas na manhã do dia 7. Eram cerca de 1.200 homens, entre marinheiros e soldados da Guarda Republicana e da Guarda Fiscal.
A luta foi curta. Boa parte dos oficiais democráticos leais a Costa encontrava-se na Flandres. À semelhança de 1910, a vantagem dos revoltosos em canhões decidiu o combate.
A maioria dos sindicalistas manteve-se neutral. Os lisboetas encolheram os ombros. Houve quem aproveitasse a confusão causada pelos combates para saquear uma vez mais as lojas da cidade.
No dia seguinte, o governo demitiu-se. Quando Afonso Costa regressou a Portugal, foi preso. A populaça de Lisboa, que antes o havia carregado em ombros, assaltou-lhe a casa e lançou-lhe os móveis pelas janelas. As residências de Norton de Matos e de Leote do Rego foram também vandalizadas.
Depois de passar algum tempo na prisão, Costa exilou-se em França. Sentia-se atraiçoado pelos seus. Até ao fim da vida, iria passar poucos dias em Portugal.


Imagens: Internet


Também publicado em Milhafre.